terça-feira, agosto 30, 2005

Ibirapuera (SP) pode ter escola de cão-guia

Projeto é abrir, em 2006, local para treinar animais aptos a acompanhar deficientes visuais
A Prefeitura de São Paulo planeja instalar no parque Ibirapuera em 2006 um centro de treinamento de cães-guia -utilizados para acompanhar deficientes visuais.
O projeto prevê um espaço onde os animais serão preparados e que abrigará cursos sobre mobilidade e cadastramento de famílias interessadas em ter os cães dentro de casa durante uma fase de adaptação, antes de serem levados às pessoas beneficiadas. Os animais serão cedidos gratuitamente aos portadores de deficiência.
O local do parque Ibirapuera escolhido pela gestão José Serra (PSDB) para receber a escola de cães-guia fica perto do viveiro Manequinho Lopes. A idéia é que seja fechado com vidro e funcione como área de visitação pública, diz a secretária Mara Gabrilli (da pasta da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida).
Gabrilli afirma ter combinado a utilização do espaço com a Secretaria do Verde e do Meio Ambiente, faltando somente a formalização pelo conselho do parque.
O centro, diz, deve ficar pronto no segundo semestre do ano que vem, erguido com recursos de uma parceria já fechada com a iniciativa privada e uma entidade do terceiro setor -Iris (Instituto de Responsabilidade e Inclusão Social), que cadastra atualmente pessoas interessadas nos animais em seu site (www.iris.org.br).
O Iris, que dispõe de um instrutor treinado na Nova Zelândia, diz não haver hoje em dia nem 30 cães-guia no Brasil inteiro.
O projeto prevê levar cinco deficientes visuais ainda em 2005 aos EUA, onde ficarão duas semanas em uma escola especializada e trarão cinco animais já treinados.A proposta paulistana deve ser a primeira na região Sudeste. Segundo Thays Martinez, presidente do Iris e que trabalha na secretaria com Gabrilli, há outras duas escolas, em Florianópolis e no Distrito Federal.No Brasil, existem 160 mil cegos e mais de 2 milhões pessoas com grande dificuldade para enxergar, de acordo com dados do IBGE.
A maioria dos cães-guia do país é importada. Thays Martinez, 31, deficiente visual desde os 4 anos, conseguiu um há cinco anos, por meio de uma associação internacional. "A mudança na qualidade de vida, a independência, a liberdade, a segurança, é tudo indescritível. Caminhar por São Paulo é muito complexo. Somente com uma bengala não se consegue detectar todos os obstáculos", diz.
Ela chegou a ser barrada no Metrô de São Paulo anos atrás por causa de seu cão-guia, mas conseguiu decisão favorável na Justiça. Em junho deste ano, uma lei federal garantiu esse direito no transporte coletivo a todos os portadores de deficiência visual.
A secretária Gabrilli diz que, além do treinamento, ainda negocia uma parceria com universidades para fazer a criação desse tipo de animal. A intenção é usar as raças labrador e golden retriever.
O treinamento de um cão-guia leva de três a cinco meses, mas é precedido de um ano de adaptação na casa de uma família, que não precisa ter deficientes. O animal não pode aprender só a ser obediente, mas a parar nos desníveis e a conduzir seu dono em torno dos obstáculos, ainda que em desacordo com as orientações verbais que receber.
Gabrilli fala em treinar mais de 50 cães por ano com a implantação do centro, mas Martinez afirma que 16 é um número mais realista. A secretária fará um cadastramento dos primeiros deficientes beneficiados, gratuitamente. O critério de seleção não será a ordem de chegada. "É preciso analisar as condições de adaptação."
ALENCAR IZIDORO - DA REPORTAGEM LOCAL

Fonte: Folha On Line